este é o meu bloco de notas numa aventura asiática

segunda-feira, abril 25, 2005

Há algo de muito errado aqui

Entro no supermercado em Shibuya.
É um buraco de sítio onde tenho de atravessar 5 corredores para chegar à “comida”. Mas hoje entrei por outra porta e passo por uma zona de vitrines. Num supermercado, ainda por cima japonês, é um bocado difícil concentrar a vista. Mas hoje parei e pus-me a olhar para as vitrines fechadas com os vendedores em frente.
E percebi. O que estava por detrás dos vidros eram malas de marca, ditas de luxo. Ele eram Chanels, Louis Vuittons, Guccis, etc. Assim, à venda num supermercado!
Depois veio o choque. Olhei para os preços. Um bimbice da Chanel custava 200 000 yen (cerca de 6000 euro), uma carteira LV (daquelas pequenas só para dinheiro e docs) custava 50 000 yen (370 euro)... Mas está tudo louco?!
Faz sentido esta loja vender estes artigos aqui em Shibuya, o local preferido dos adolescentes que desperdiçam horas nos locais de fast food ou na rua para serem vistos. Adolescentes que quando largam o uniforme da escola perdem horas a arranjar o cabelo cheio de laca (miúdas e miúdos), a pôr maquilhagem excessiva que os faz parecer saídos dum solário, a usar lentes de contacto para parecer que têm os olhos azuis ou verdes, a carregar telemóveis que desaparecem no meio das centenas de penduricalhos.
Os rapazes são todos meia lecas mas com os cabelos em pé cheios de laca e atitude de mauzão. As miúdas parecem bonecas e até seriam bonitas se não fossem tão exageradas, tão falsas com as suas vozinhas agudas. Estas são as miúdas que se prostituem para comprar as Louis Vuitton... estas são as miúdas que acompanham homens a bares e “dão conversa” em troca de dinheiro para compras...
É nestas alturas que penso como foi tão pacífico crescer em Lisboa nos anos 80.
Quando não havia telemóveis, nem internet e, para mim, nem jogos de computador, nem computador!! Vivíamos num mundo real, menos vazio e estávamos menos perdidos.
Ou pelo menos perdidos duma maneira mais económica!


5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Eu tb acho fútil e isento de qualquer humanidade. Afinal, onde é que estão os sentimentos individuais e intransmissíveis no comportamento destas pessoas, que revelem o selo da sua individualidade?
Talvez seja um choque, mas em Lisboa tb se encontra esse tipo de prostituição. Claro que com outra aparência porque os valores estético-sociais são outros, mas o acto na sua essência é o mesmo: prostituem-se para comprar os objectos que em determinado momento são os socialmente mais cobiçados.
Quem disse que a escravatura tinha sido abolida?

8:59 da tarde

 
Blogger Joana said...

Escravatura eu não diria... Acho que é mais outra face para a prostituição. Em vez dos fatos de licra manhosos, vestem-se de Hermés...

9:47 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

Escravatura por se subjugarem à pressão social que os obriga a abdicar da sua dignidade e da sua intimidade em prol de uma máscara de sucesso social. Não têm poder sobre as suas vidas!

11:31 da manhã

 
Blogger Joana said...

"se subjugarem"... é por isso que não acho que seja escravatura... É consentido.

9:31 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

Compreendo o teu ponto de vista Joana!
Mas insisto!
A nossa liberdade termina onde começam as dos outros!
Os Africanos e os Sul-Americanos só deixaram de ser escravos quando se emanciparam e reinvindicaram a sua liberdade.
Nunca os Chineses e os Japoneses, por exemplo, se deixaram tornar escravos pelos Europeus!

12:10 da tarde

 

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