este é o meu bloco de notas numa aventura asiática

domingo, maio 22, 2005

mudar de casa

Hoje ao passear pelo blog da Maria Lua, para saber como estava o tempo em Londres, reparei que o meu blog tinha passado da lista de malta a blogar no estrangeiro para malta a blogar em Portugal. Um acerto bastante correcto.
Mas como vos explicar um baque que senti, o nó no peito ao ler o link "from tokyo with love" (lisboa)... Lisboa, Lisboa, Portugal, não Tokyo, Japão. É verdade. Eu vim-me embora, não é temporário, acabou, FACE IT!
E foi o que precisei para criar um novo blog. Nova vida.
Eu já não estou em Tokyo. Estou em Lisboa e é aqui que tenho que repegar em mim, nos pedaços de mim, put myself together, organizar-me, acabar o curso, fazer o portfolio e... começar a procurar emprego. Não necessariamente em Portugal.
A minha vida agora segue aqui, sem a excitação de Tokyo mas sempre a procurar a novidade!
Adeus Tokyo.

quinta-feira, maio 19, 2005

I wish I felt jet lag

O ritmo frenético de Tokyo ainda corre nas minhas veias e colide com Lisboa

passear

Desço as escadas do Metro e encosto-me ao lado esquerdo. Atravesso a rua e olho primeiro para a direita. Antevejo problemas.

Depois de um almoço com a minha avó, desço pela Almirante Reis para ouvir uns 300 piropos completamente dispensáveis e dos quais não sentia falta nenhuma. Passo no Martim Moniz para sentir a comunidade asiática e levar com um piropo dum chinês, claramente demasiado integrado na sociedade portuguesa (porque, pelo menos no Japão, ninguém manda piropos! Thank you!).
Russos e Sportinguistas. Rossio. Rua Garrett. Chiado. Adamastor. Miúdos nas esplanadas, na relva em ambiente completamente relaxado e tanta gente a beber super bock... Tudo me parece tão estranho.
Finalmente à noite encontro com amigos e sinto-me mais normal.
Toda a gente quer saber como foi, conta, mas não há como explicar. Não há palavras e eu sei que compreendem isso...

lisboa, o regresso

O que é mais estranho é que 7 meses e meio não são nada numa vida (nem para ter um filho dá) mas eu não consigo deixar de me sentir meio perdida...

Lisboa à noite é escura e vazia. Lisboa de dia brilha tanto que me fez gritar por uns óculos escuros e está um calor dos diabos!

Entrar no banco ou no supermercado e poder comunicar dá-me uma sensação de liberdade fantástica. Toda eu sou Boa Tarde, Bom Dia, Muito Obrigada, Tenha um óptimo dia, Está um calor dos diabos não está?...

Fiz zapping no sofá durante duas horas. Descobri que temos dois canais novos, a sic comédia e a rtp memória. Descobri que há um leitor de dvd na casa. Apanhei um susto quando vi a Manuela Moura Guedes. Parecem-me bons tempos para a leitura. Vou aproveitar a sugestão.

quarta-feira, maio 18, 2005

e ao 222º dia...

Gosto da ideia de completamente involuntariamente ter passado 222 dias no Japão. Deve ter algum significado cabalístico...
O meu último dia no Japão foi um pouco penoso, entre tentar enfiar o possível e impossível em malas para duas mãos e umas costas, tentar chegar ao aeroporto, suar as estopinhas a arrastar cerca de 50 quilos durante 30 mn a atravessar Shibuya, odiar todos os workaholics mais interessados em não perder um segundo que respeitarem o próximo, principalmente o próximo carregado que nem uma mula, odiar toda a falta de ajuda, nem para subir um degrauzinho para entrar no comboio, decidir tornar-me agressiva e ignorá-los também, chegar finalmente ao aeroporto e conseguir (prodigiosamente) enviar 44 quilos para o porão quando o limite é cerca de 25, 30 quando estão bem dispostos!
12 horas demoraram a passar mas passaram depressa demais. Nem me parecia real ter que me enfiar noutro voo de Londres para Lisboa e estava tão zombie que nem me chateei quando o this is the captain speaking nos informou que devido a uma greve dos controladores de tráfego aéreo franceses tínhamos um atraso de cerca de 2 horas...
houston we have a problem e Lisboa foi informada.
Eu já pensava que não me importava nada de ficar uma noite numa Londres fustigada pela chuva, bem condizente com o meu estado de espírito.
O atraso foi cerca de 3 horas porque, pelo que percebi, ainda alguém decidiu deixar cair o telemóvel na sanita e tiveram que chamar os engenheiros para remover “a bomba”.
Em Lisboa ainda fui interceptada pela alfândega e obrigada a abrir as malas (não há piedade neste país) qual contrabandista vinda das terras do Oriente...
À 1 da manhã já contava com um post it deixado por família e amigos a dizer “Apanha um táxi e paga com o visa! Até logo” mas nãããooooo, não me abandonaram e tinha a recepção do aeroporto só para mim! Espectacular e muito estranho! Eles estavam estoirados e eu cheia de energia (livrai-me de aeroportos pf!)
Eram 09.00 em Tokyo e eu estava há 26 horas em trânsito...

domingo, maio 15, 2005

last post from tokyo... sayonara!

Exposição concluída e aplaudida (yes!)- check!
Apresentação final concluída (em que 90% dos ouvinte se mantiveram acordados) - check!
Seminário final – check!
Vender bicicleta – check!
Souvenirs – check!
Mala com um escandaloso “extra weight” – check!
Talismã contra funcionárias da British Airways demasiado zelosas em relação ao peso das bagagens – NOT check! (tou lixada)
Sete (sim, SETE) festas de despedida - check!
Amigos enviados para o aeroporto (desvantagens de ser a última a partir) – check!
Amigos deixados em cantos no japão – check!
Coração pequenino e apertado – check!
Tristeza perfurante, cansaço profundo... mas lá no fundo um brilho nos olhos, a alegria de já ver Lisboa...

Ainda não chorei, o que quer dizer que ainda não percebi o que me está a acontecer.

tempestade cerebral

Parece que estive aqui tanto tempo e parece que cheguei ontem. Parece que vi muito e parece que não tive tempo para nada. Parece que vivo com tão pouco e não consigo fechar mala.
Só quero parar de pensar, p a r a r, fechar os olhos, acalmar esta agitação.

sábado, maio 14, 2005

quando eu voltar...

... quero que me contes tudo o que aconteceu enquanto estive fora, quero ouvir as tuas histórias porque estou farta de me ouvir a mim mesma.

quando eu voltar...

... quero apanhar uma overdose de cinema e comer um bbiiiiifeee no Pap'Açorda! (E provavelmente ficar enjoada porque acho que já não consigo comer tanta carne)

vou já avisando...

...para não me chatearem depois, que não aprendi a cozinhar nenhum prato japonês.

quarta-feira, maio 11, 2005

mart and venus coliding in earth

Shibuya. 06:30 am. Entro no comboio. Em meu redor apenas homens. Aqui não há dúvidas que a força laboral deste país é masculina.
Nezu. 13.00. Entro no supermercado. Em meu redor apenas mulheres. Aqui não há dúvidas que as mulheres ainda tem muito que gritar neste país.

Por coincidência ou talvez não o Metro de Tokyo e mais umas dez linhas privadas inauguraram esta semana a famosa carruagem "Women Only". Como o nome indica, uma das carruagens dos comboios é reservada para mulheres apenas, normalmente apenas na rush hour. Há polícias a controlar e não é brincadeira. A carruagem "Women Only" é a solução encontrada para proteger as mulheres do "groppers" ou "apalpadores", não sei a exacta tradução em português, que se divertem a apalpar mulheres em hora de ponta.


...(longo suspiro... porque não sei o que dizer)...

sábado, maio 07, 2005

it's the final countdown

Falta uma semanita para a miúda que está de olhos em bico há 7 meses voltar para a terra dos pastéis de belém...
O que vai ser deste cantinho blogosférico, o tempo o dirá...
...cause I'm leaving on a jet plane...

the package in the package in the package

Uma das coisas que mais me fascina aqui no japão são as embalagens.
Tudo o que é embalado tem um modo de abrir lógico e eficiente. “Se não me consegues abrir o problema está em ti não em mim. Eu sou perfeita”, acho que às vezes ouço os pacotes a falarem comigo... “Tóina!”
O único problema é que caiem na obsessão e há pacotes de bolachas que parecem um filme de suspense. Abre o pacote e lá dentro... outro pacote (bolachas agrupadas, que óptima ideia), abre esse pacote e lá dentro... cada bolachinha dentro do seu pacote individual! (o quê? Lá porque somos bolachas não temos direito à nossa independência e privacidade, é?)
Nas lojas é o mesmo perfeccionismo. Compras um bolo, põe-no num saco de papel, que dobram e depois ainda dobram o canto superior direito, e depois noutro saco em que também dão uma dobra e colam um autocolante (se for de papel) ou simplesmente juntam as asas e estendem-te o saco (se for de plástico).
Pfff... que exagero, dá vontade de gritar “Pára de embrulhar que eu vou comer isso já!”
Mas é fascinante e algo me diz que vou ter saudades disso...

quinta-feira, maio 05, 2005

da relatividade da distância

Quando vim para o Japão pensava que estando “na fonte” ia ser uma loucura de cultura japonesa. Podia fazer cursos de aikidô, origami, cerimónia do chá, you name it. Ia poder ver imensos filmes japoneses. Isto é que ia ser!
Mas desde que o avião aterrou no Aeroporto de Narita, eu voei para a Lua e estou mais longe do Japão do que pensava. Aqui em Tokyo.
Aqui onde não consigo ler os títulos dos filmes. Aqui onde não há legendas. Aqui onde não sei ler os nomes dos pratos. Aqui onde não consigo ler o jornal. Aqui onde não consigo navegar na net japonesa. Aqui onde simplesmente não entendo o que me dizem.
Aqui sinto-me a deslizar por uma cultura sem conseguir tocá-la. Aqui só posso observar e tirar as minha conclusões mas é difícil entender sem contexto. Aqui aprendi a olhar e aceitar, mas não a entender. É difícil esquecer os meus preconceitos.
Talvez por isso leia tudo o que me cai nas mãos sobre cultura japonesa mas é maioritariamente escrito por estrangeiros. Dá-me um contexto, mas vejo pelos olhos dos outros, pelos preconceitos dos outros.
Hoje e sempre lost in translation.

quarta-feira, maio 04, 2005

na minha alegre casinha

Os japoneses são conhecidos por miniturizarem tudo. Tudo poder ser mais pequeno e compactado é uma missão/obsessão nacional.
Um dos expoentes dessa missão é a minha casa. Em cerca de 15 m2 conseguiram enfiar para além de uma cama, uma escrivaninha, uma estante e um armário, uma cozinha e uma casa de banho.
A casa de banho tem 1 m2 (80x120cm). A cozinha tem no mesmo espaço um bico de fogão, um lavatório, uma coisa que se chama frigorífico mas que nos hoteis se chama mini-bar, um espaço para detergentes e afins e outro para enlatados, loiça etc...
Como devem calcular exige um controlo espartano do dia-a-dia. Não dá para comprar muita comida e não dá para cozinhar muito, nem muito depressa.
Os mais pragmáticos diriam que é uma questão de economia. Outros relembrarão Corbusier com o seu Modulor...
Eu acho que faz parte de um plano para nos converter à Filosofia Zen e pelo caminho tornar-nos em pessoas muito fashion. Toda a gente sabe que a new wave é abdicarmos das posses materiais, Viver-Mais-Com-Menos, Minimalisto-É-Que-É, De-Qualquer-Maneira-o-Sushi-Tem-Que-Ser-Comido-No-Próprio-Dia e que os japoneses são os primeiros em qualquer onda fashion.
It's a Wonderful Life!



Onde está a sanita? Surprise!

golden week

Já percebi o que são estes feriados todos concentrados que transformam uma banal semana em dourada!
Porque o patrão japonês não é muito dado à generosidade das férias, a concentração forçada de feriados é uma invenção para obrigar os japoneses a descansarem (embora eu duvide muito que descansem, devem aproveitar para fazer aqueles tours todo-o-japão-que-interessa-em-4-dias e perder-se nas multidões que saiem às compras nos restantes dias), sem comprometer a eficiência do país.
Então são estes os feriados (explicação arrancada a ferros a um professor não muito interessado):
29.março: Midori no Nichi, ou Dia Verde, também conhecido por Celebração do Aniversário do Imperador Anterior (que se calhar era verde..., o prof não conseguiu explicar porque é que só celebram o aniversário de UM imperador anterior)
1.Maio: Dia doTrabalhador (Ooopss...pelo post de dia 1 de maio, afinal também se celebra aqui!
3.Maio: Dia da Constituição.
5.Maio: Kodomo no nichi ou Dia das Crianças
e porque havia um feriado à terça e outro à quinta, tratou-se de criar logo um para a quarta e assim 4 de maio é o Dia da Nação.
Claro que para não ser um regabofe (ainda se podia correr o risco da malta gostar de estar de férias), segunda e sexta-feira não são feriados, o que quer dizer subtilmente... "Vai trabalhar, preguiçoso! O país precisa de ti para bater nos chineses!"
Vantagens de ser estudante é que tantos dias de férias me parecem ideiais para... trabalhar!
Aqui o meu campus parece uma cidade deserta, no meu lab vazio ponho a minha música aos gritos e só fiquei chateda porque a cantina fechou.

domingo, maio 01, 2005

memória fotográfica

Eu e o João estamos a organizar uma exposição de fotografias de toda a malta deste programa de intercâmbio. Pedimos a cada estudante 4 fotografias especiais e significativas dos 7 meses que passámos em intercâmbio (somos 40 por isso estão a ver a quantidade) e estou mesmo contente com o que tem sido enviado. Principalmente do lado japonês que andou a passear 7 meses pela Europa (cada japonês passava por duas faculdades entre Lisboa, Paris, Belgica e Munich) temos recebido fotos mesmo engraçadas.
Curiosa e obviamente as fotos de Lisboa/Portugal estão no top. Ele foi festas, viagens, trabalhos na faculdade, todo o japonês que passou por Lisboa escolheu Portugal para tema de cerca de 2, 3 fotos . Quando aparecem pessoas são invariavelmente japoneses ou portugueses ou mesclas “erasmianas”.
Ah pois é, parece-me que os japoneses andaram a divertir-se em Portugal...
Cof, cof... até parece que eu não por aqui! :D

dia do trabalhador

“cgtp...unidade sindical...cgtp...unidade sindical”
“...hoje não vais trabalhar... porque faz anos que és trabalhador...”
(sim fui uma criança muita dada à manifestação)
hei pessoal que azar ser domingo, não?
Como devem calcular dia do trabalhador não é coisa celebrada por aqui...
Em contrapartida esta semana que vem é a “Golden Week” com 3 feriados seguidos (terça, quarta e quinta-feira) e já houve outro na sexta passada e é altura de ir passear para os japoneses (que maluqueira). Infelizmente aqui por Shibuya a multidão não diminuiu.
Por acaso não sei porque é que é feriado tantos dias. Vou averiguar.